quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Aprendizagem pelo exemplo...

Viu-se, em 24 horas, responsáveis políticos americanos demitirem-se dos mais elevados cargos para que tinham sido nomeados, por se ter tornado público que tinham tido (tinham tido) dívidas ao fisco, entretanto regularizadas.
Dá que pensar. Em Portugal, há uns anos - e já bem depois da revolução -, também políticos que utilizavam bens públicos em proveito próprio, ou que tinham "saídas" públicas menos politicamente correctos, motu proprio, se demitiam.
Hoje não! Quanto maiores as suspeitas, quanto mais graves as imputações, quanto mais avançados os procedimentos criminais relativamente a alguns políticos, mais os mesmos se agarram aos cargos, aos títulos, ao poder. E porquê? Porque o poder os protege? Porque o ser um primus inter pares lhes poderá dar a imunidade de que gozam (por vezes ilegalmente, mercê de leituras absurdas dos estatutos políticos)? Ou será simplesmente porque os padrões éticos desapareceram? Porque os factos, verídicos ou pelo menos possíveis, independentemente da gravidade moral, têm sempre uma justificação ou escapatória jurídica?
Li, há dias, numa inacreditável decisão judicial, que não cabia condenar como litigante de má-fé uma empresa pública que teimara em desmentir o particular apesar das bastas provas documentais juntas aos autos que mostravam a razão do particular, porquanto é "normal" que na administração pública haja alguma confusão, perda de documentos, desnorte...
Pois é tudo o mesmo: da administração à justiça (ambas com letra pequena), passando pela política (também pequena), é a cultura do "facilitismo", do "desculpismo", do "não vale a pena porque isto é mesmo assim".
Que tristeza... viver num país (com letra pequena), em que a cultura dominante é esta do "é mesmo assim", em que a Administração, a Justiça e a Política se apoucaram ao que se vê, perdendo direito à maiúscula!
Culpa de quem? Não dos titulares dos cargos! Esses são o que são, e vivem conforme os deixam... Culpa da massa amorfa anónima que todos somos... que ainda não percebeu que só quando a abstenção for de 100% é que "eles" se aperceberão que não têm lugares para onde se fazerem eleger. E aí talvez pensem que vale a pena pensar mais alto, mais longe e mais forte!

1 comentário:

  1. Não posso estar mais de acordo! Temos os actores políticos, e outros que tais, que temos porque nos demitimos dos direitos e responsabilidades de cidadaos

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