terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Primavera com travo a Outono aproxima-se

Após a tomada de posse do actual Governo, muitos sentiram uma íntima esperança, nem sempre desvelada, de que a mudança só poderia ser para melhor, atento o desgoverno em que haviam sido lançadas a economia, as finanças, o tesouro, a credibilidade institucional… Em suma, em face do depauperamento e exaustão do País! Daí que mesmo muitos que não haviam apoiado a coligação encarregue da formação do Gabinete, secretamente ansiassem pelo prometido estremeção, aquele que permitiria abalar anquilosamentos e fraternidades da desgovernação anterior.
A Esperança manteve-se durante meses, manifestando-se num ciclo aparentemente ilógico: à inicial timidez da Esperança apenas partilhada por aqueles que haviam dado o seu voto ao Governo eleito, sucedeu uma Esperança mais viçosa, fruto do contágio, por estes, de todos aqueles que não tendo suportado a eleição havida, se haviam abstido, ou haviam dado o seu voto a Partidos sem vocação governamental, ou haviam, apesar da cor partidária, perdido a fé no pretérito Executivo.
Apesar do aparente contra senso, o certo é que a esperança de muitos se manifestou, e a de muitos outros nasceu, apenas quando se anunciaram políticas orçamentais restritivas, pois que estas eram oferecidas embrulhadas em resplandecentes promessas de rigor, de fiscalização, de garantia de legalidade.
Todos os povos, mesmo os mais avessos à Lei e à Ordem, o que aliás nem sequer é da nossa idiossincrasia, gostam, enquanto “Todo” (sócio-cultural, espiritual, nacional), de sentir que alguém segura a roda do leme. E Portugal, estando a sair da ressaca provocada pelo inebriamento de décadas de laxismo, confusão, imoralidade e ilegalidade (que alguns pensam ainda, estranhamente, ser sinónimos de Liberdade), começava, já então, a sentir algum fastio com certos estilos de condução dos destinos nacionais.
Mas cedo a Esperança descorou. O virar dos primeiros anos de governação trouxeram o esmorecimento final desses secretos anseios pela Lei e pela Ordem. A emoldurar o esbatimento da natureza morta em que o País se via retratado, surgiam escândalos que tocavam os mais recônditos e secretos domínios da consciência nacional. O segundo ano de funções do Gabinete conseguiu mesmo passar despercebido, tantos os escândalos que envolviam as constelações de estrelas que mediaticamente nos guiam. Os actores do jet-set artístico, político e social, conseguiram, num só ano e com um punhado de escândalos, perder o brilho. Aviltaram-se, confundiram-se, apagaram-se. Humanizaram-se em excesso, caindo dos pedestais em que décadas de respeito íntimo de um Povo intrinsecamente obediente os haviam colocado.
Mas toda a anestesia causada por uma forte pancada passa com o tempo… e o passar do tempo, nesta história de mais de 3 anos, permitiu criar insensibilidade aos escândalos que atravessam o horizonte português: da Justiça à Economia, da Política à Administração Pública, das Forças de Segurança às Magistraturas, etc. Já nada escandaliza verdadeiramente. Por maior que seja o choque, desaparece seguramente com o Jornal da manhã seguinte.
Agora o País atentou de novo na Governação. Procurou saber a que ponto, e para que direcção, os timoneiros o haviam levado… o espanto emudeceu o País, que descobriu que a navegação tinha sido circular, e que uma vez mais o Rigor, a Lei e a Ordem não haviam passado realmente de embrulhos de coisa nenhuma.
Aproximando-se o ocaso deste Governo, acenam com novos embrulhos: feitos de nada! Assim que a Primavera que se aproxima se transfigure tristemente no final do Outono das Esperanças nascidas vai para 4 anos. Todos sentem o que poucos ousam dizer: o caminho do Rigor, da Lei e da Ordem, o caminho da verdade, do respeito e do amor próprio... uma vez mais não foi trilhado!

Sem comentários:

Enviar um comentário