quinta-feira, 30 de abril de 2009

Guerra Junqueiro e os dias de hoje

Em 1886 escrevia assim Guerra Junqueiro para nos descrever como Povo: "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..." - quem vê o que fazem e dizem os Senhores Deputados ao Parlamento, e as regalias de que gozam hoje em dia; quem vê a aprovação por unanimidade e sem discussão da lei do financiamento dos partidos políticos (diploma esse que potencia óbvia e claramente o descontrole e a recepção de fundos "ilícitos"); quem vê os discursos de alguns Ministros, zombeteiros das instituições de controle, sejam elas administrativas ou judiciárias, conclui que em 2009, o Povo Português nada mudou... é, pois, ainda e sempre "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Formação e deformação

Passámos anos numa Faculdade de Direito... passamos anos a pensar Direito... fomos ensinados por Mestres e Professores o dever ser. Mais do que saber Lei há que pensar com sentido de Justiça. O Direito que aprendemos (pelo menos assim o aprendi e sinto) é muito mais do que Lei... é um sentido de justiça, de recta decisão perante a circunstância, de prudência, sem esquecer os conceitos, obviamente. Daí a sensação de amargura que esta semana senti ao ver que de duas uma: ou me formaram bem, o que não sucedeu a todos; ou me deformaram irremediavelmente!
Não pode, com efeito, "gente" grada do Direito pátrio, Mestres em Direito, docentes universitários, que até ocupam cargos públicos, apresentar-se à comunicação social a dizer alarvidades sem tamanho, erros dogmáticos absurdos, patetices que nem um aluno que nunca estudou uma cadeira diria.
Fico triste, e "desesperançado" (será isto um neologismo ou um simples erro?)... como podem ex-cathedra mostrar e ensinar o que deve ser, mas por conveniências políticas desdizerem tudo o que sabem e em que deviam acreditar, apenas para justificar o injustificável, para protegerem os "amiguismos", para garantirem a sua sobrevivência política à custa do erário público?
É triste... mas sinceramente julgo que neste caso "não sou eu... são eles"!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Rui Barbosa - "Tenho Vergonha de Mim..."

O Poeta Brasileiro Rui Barbosa escreveu no século passado:
"Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, à derrota das virtudes pelos vícios, à ausência da sensatez no julgamento da verdade, à negligência com a família, célula-Mater da sociedade, a demasiada preocupação com o 'eu' feliz a qualquer custo, buscando a tal 'felicidade'em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos 'floreios' para justificar actos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre 'contestar', voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo este meu chão,vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti, povo deste mundo!
'De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderesnas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto'. "
Rui Barbosa

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Oh Portugal, Portugal...

"Oh! Portugal, Portugal, porque te quero tanto?"... assim se iniciava uma canção espanhola da década de 40... Motivos existiam para isso! Em Espanha viviam-se todos os horrores que a história registou, e em Portugal resistia-se, e bem, a entrar numa Guerra devastadora! O que se poupou em vidas humanas, não ceifadas pela metralha bélica, foi apenas um "lucro" que pagámos bem caro, com a manutenção do atraso, do atavismo, do preconceito, das certezas absolutas, das verdades oficiais... e da mentira privada.
É o país das públicas virtudes. É o país em que a culpa morre solteira porque as uniões de facto são muito mais cómodas, e sempre existiram, mesmo sem enquadramento legal.
É o país que em 1910 discutia se seria admissível a existência de casamento civil, posto que um sacramento não podia ser "estatizado" pelo poder político. É o país em que os processos judiciais relativos ao Regicídio de D. Carlos e D. Luís Filipe, de Sidónio Pais, de Humberto Delgado e de Sá Carneiro ou desapareceram totalmente (fisicamente), ou nunca encontraram um fim (ou pelo menos um fim decente)...
Oh! Espanha, Espanha! Porque nos querias tanto? A nós, que nem amor próprio conseguimos ter!