quinta-feira, 30 de abril de 2009

Guerra Junqueiro e os dias de hoje

Em 1886 escrevia assim Guerra Junqueiro para nos descrever como Povo: "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..." - quem vê o que fazem e dizem os Senhores Deputados ao Parlamento, e as regalias de que gozam hoje em dia; quem vê a aprovação por unanimidade e sem discussão da lei do financiamento dos partidos políticos (diploma esse que potencia óbvia e claramente o descontrole e a recepção de fundos "ilícitos"); quem vê os discursos de alguns Ministros, zombeteiros das instituições de controle, sejam elas administrativas ou judiciárias, conclui que em 2009, o Povo Português nada mudou... é, pois, ainda e sempre "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas..."...

7 comentários:

  1. Não poderia ser melhor a caracterização do nosso Povo ...sempre tomando uma atitude passiva, esperando que algum milagre aconteça...o último que me recordo foi divino e foi em 1917!!!
    Será que o Povo português algum dia irá mudar? No que se refere a decisões estratégicas adequadas e visionárias, não consigo visualizá-las após o tempo do Marques de Pombal...e quanto ao estado de democracia, cada vez mais assistimos à deturpação das valores morais e éticos que se viviam ante-revolução 74 (Oeiras, Felgueiras, Lisboa,...).
    Por favor, sejamos uma sociedade civil mais proactiva e ágil...

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  2. "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,..."

    Caro PSM
    Chamo-lhe a atenção que quem fez esta descrição do Povo Português, não se coibiu de se abancar também à mesa do orçamento.
    Por isso, esta e outras atroadas, do mesmo personagem se calhar só lhe saíam da boca, enquanto ele e os seus correligionários não tomaram conta da “chafarica”.
    E como o estado a que chegámos deriva quase directamente da acção dessa “gentinha”, não me parece que a sua (dele) opinião sobre o Povo Português, seja algo que mereça consideração ou citação.
    Há poucos dias subiu aos altares um Português que desmente claramente essa definição.
    Dos descendentes desse Português, outros se agigantaram e defenestraram os traidores, quando tal foi necessário.
    Tal acontecerá de novo quando for necessário.
    Como todos os Povos, o Português precisa de líderes.
    Só que normalmente precisa de líderes um bocado mais grandiosos do que os outros povos precisam.
    Não confunda resiliência, com imbecilidade ou resignação.
    .

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  3. Não se confunde resiliência com imbecilidade e resignação. Resiliência é coisa que o povo português não tem. Como Guerra Junqueiro, comesse ou não do orçamento, muito bem dizia, somos um povo de imbecis e resignados. Nuno Álvares e outros, defenestradores ou não, são poucos para tanta gente e tanta história.
    Como diz uma amiga minha, de quem sempre me recordo nestas alturas, "Portugal, infelizmente, é feito pelos descendentes dos que ficaram, não dos que partiram". E contra a genética não sobre muito discurso.

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  4. "Resiliência é coisa que o povo português não tem."

    Bem, cada sabe de si.
    Mas uma coisa é certa, escolheu bem o seu Nick, porque maldizentes são mesmo o que não falta cá em Portugal.
    Seria curioso e interessante fazer uma correlação estatística, entre o sucesso dum país e o tempo que as suas supostas elites culturais passam a dizer mal do seu próprio povo.
    Aliás, sendo tão superiores ao povo, de onde provêem, não percebo porque não emigram mesmo, seguindo a saga dos nossos gloriosos antepassados.
    Deixem-nos cá ao povo, na nossa vil tristeza.
    .

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  5. Caro Mentat,
    não discordo dos pressupostos de que parte, nem sequer dos exemplos históricos que evoca... mas, infelizmente, não acredito, mesmo nada, na possibilidade de "os portugueses", quando for necessário (já o é), agirem... não agem! Nunca agiram! Foram sempre, em Portugal, movimentos de um punhado que manipulou o Povo que levaram a grandes alterações. Nenhuma revolução, nenhuma, o foi verdadeiramente em Portugal. Nem em 1385, nem em 1640, nem em 1820, nem em 1910, nem em 1926, nem - muito menos - em 1974...
    Ou não terei razão?

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  6. Caro PSM
    Em relação ao comentário que faz, ao Mentat. Não! Não tem razão!
    E mais! Os problemas deste país não passam só pelo mau desempenho dos políticos, passam também medíocre educação (cultural, etc) e passividade dos portugueses.
    E também não é através da blogosfera que mudamos as atitudes políticas e sociais deste país, sobretudo quando criticamos acometidos no receio, e num mero diminutivo sobre a nossa identidade pessoal.

    Cumprimentos
    F. Montblanc

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  7. "Foram sempre, em Portugal, movimentos de um punhado que manipulou o Povo que levaram a grandes alterações."

    Caro PSM

    E não é sempre assim, na história dos Povos?
    Consegue-me dar algum exemplo na história universal que não tivesse sido assim?
    Ou seja, é sempre uma Elite que aponta um rumo e o Povo segue-a.
    Isto nas revoluções que conduzem efectivamente a avanços positivos na vida dos Povos, tipo a Revolução Americana, a Magna Carta Inglesa ou as nossas Descobertas.
    Eu continuo a acreditar que o nosso Povo tem a resiliência necessária para seguir um rumo que uma Elite (merecedora desse nome) lhe apresente.
    Neste momento efectivamente, essa Elite não existe, pelo que o Povo está à mercê de qualquer demagogo que se lhe apresente.
    Mas não são muitas as nações que duram 900 anos, por isso algum valor deve existir nos nossos genes e na nossa cultura.
    Mas pode ser que eu esteja enganado e estejamos a assistir ao canto do cisne duma Nação.
    Mas nesse caso ou estamos dispostos a fazer alguma coisa para o impedir, ou também não vale a pena reclamar.

    Os Portugueses têm uma qualidade única, que ao mesmo acaba por ser o seu principal problema – o “desenrascanço” (a capacidade de improvisar).
    Isto tenho eu verificado ao longo da minha vida profissional, comparando o comportamento dos operários portugueses com os de outras nacionalidades.
    Ao não ser necessário grandes explicações, para que um operário português realize um trabalho mais ou menos eficaz, o enquadramento desses operários acaba por se dispensar a si próprio de grandes esforços de estudo e planeamento.
    Portanto, as classes dirigentes nacionais conseguem-se autopromover, sem grande esforço da sua parte.
    Só que o resultado disso é que nunca se procura a excelência sustentada.
    Alguns dos ditos populares que considero mais irritantes são :
    “O óptimo é inimigo do bom” ou “Mais vale um mau acordo do que uma boa demanda”.
    Quem segue estas máximas nunca passa do medíocre.

    Mas como as coisas em Portugal normalmente resolvem-se graças ao “desenrascanço” dos subordinados, as “chefias” podem recolher calmamente os louros de “sucessos” para os quais, na maior parte das vezes só contribuíram por omissão.
    Por isso a classe politica é o espelho da sociedade actual.

    Esta tendência, que de certo modo foi contrariada no Estado Novo, desabrochou em grande força nesta 3ª República.

    Por isso que se quisermos acusar alguém dos males de Portugal Contemporâneo, acusemo-nos a nós próprios e não ao Povo em geral
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